António Nobre, “A nossa maior poetisa?”

António Ladeira

O presente artigo tem como intenção o estudo das representações do género e, em particular, da “masculinidade” na poesia do autor português do século XIX: António Nobre. Neste trabalho uso uma abordagem teórica raramente utilizada no estudo das literaturas lusófonas e na poesia lusófona em particular: “estudos de género” e “estudos sobre a masculinidade” com referências a modelos da sociologia e antropologia que estudam a construção, justamente, da masculinidade. O argumento do meu artigo está ancorado na frase, frequentemente citada, que o poeta Teixeira de Pascoaes terá uma vez proferido quando lhe perguntaram se admirava a poesia de António Nobre. Pascoaes— de um modo que ficou famoso—respondeu: “Claro que gosto, é a nossa maior poetisa!” Além de constituir uma provocação, a frase revela aspectos dos códigos de comportamento sexual (e de produção poética) que prevaleciam em Portugal durante o século XIX e a primeira metade do século XX. Entre outras coisas, estes códigos definem o tipo de poesia que um homem deve e não deve escrever. Ao considerar as implicações e pressupostos sociais (e sociológicos) por detrás da frase provocadora de Pascoaes, considerada contra o pano de fundo da poesia sexualmente subversiva do próprio Nobre, espero lançar alguma luz sobre a natureza gendered (genérica, relativa ao género) do que seria uma poética normativa em Portugal durante o tempo de António Nobre e Teixeira de Pascoaes; e também lançar luz sobre o modo como António Nobre subverte, na sua poesia, estas obrigações relativas ao género.

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Resumo

O presente artigo tem como intenção o estudo das representações do género e, em particular, da “masculinidade” na poesia do autor português do século XIX: António Nobre. Neste trabalho uso uma abordagem teórica raramente utilizada no estudo das literaturas lusófonas e na poesia lusófona em particular: “estudos de género” e “estudos sobre a masculinidade” com referências a modelos da sociologia e antropologia que estudam a construção, justamente, da masculinidade. O argumento do meu artigo está ancorado na frase, frequentemente citada, que o poeta Teixeira de Pascoaes terá uma vez proferido quando lhe perguntaram se admirava a poesia de António Nobre. Pascoaes— de um modo que ficou famoso—respondeu: “Claro que gosto, é a nossa maior poetisa!” Além de constituir uma provocação, a frase revela aspectos dos códigos de comportamento sexual (e de produção poética) que prevaleciam em Portugal durante o século XIX e a primeira metade do século XX. Entre outras coisas, estes códigos definem o tipo de poesia que um homem deve e não deve escrever. Ao considerar as implicações e pressupostos sociais (e sociológicos) por detrás da frase provocadora de Pascoaes, considerada contra o pano de fundo da poesia sexualmente subversiva do próprio Nobre, espero lançar alguma luz sobre a natureza gendered (genérica, relativa ao género) do que seria uma poética normativa em Portugal durante o tempo de António Nobre e Teixeira de Pascoaes; e também lançar luz sobre o modo como António Nobre subverte, na sua poesia, estas obrigações relativas ao género.

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