Globalização, técnica e modernidade no Rio de Janeiro das primeiras três décadas do século XX

Machado de Assis, João do Rio, e Lima Barreto em diálogo com textos de viajantes estrangeiros

Pedro Lopes de Almeida

Abstract

While a considerable amount of scholarship in the field of historiography has been devoted to the transformation of the urban landscape of Rio de Janeiro in the early 20th century and literary studies have largely focused on the representations of the city by major authors of this period, until now research on the literary treatment of the changing city by foreigners remains scarce. The purpose of this paper is to introduce and problematize how travelers writing in English reflected the new realities of Rio de Janeiro during the First Republic by relating a corpus of selected travelogues to the literary works of Brazilian authors Machado de Assis, João do Rio, and Lima Barreto. By focusing on the concepts of speed, acceleration, globalization, and modernity, I propose to unpack the underlying tensions that accompany the far-reaching changes that occurred as a consequence of the urban reformation promoted by Mayor Francisco Pereira Passos. To do so, following a critical review of the historical context leading to the scenes of urban transformation, this text reflects on three central leitmotifs of travel writing in the city, and analyses them against selected canonical literary texts: the introduction of foreign technology (especially urban railroads) and its impacts; the links between urban transformation and the reproduction of images of the city (with an emphasis on cinema); and the topic of accidents and progress as a problematic idea. The conclusions of the present essay point towards a deep mutual implication between the foreign gazes and the development of the imaginary of a cosmopolitan city, suggesting a correlation between social change, literary representations, and the creation of a corpus of travel writing centered on the city of Rio.

Uma baleia, uma telenovela, um alaúde, um trem?

Uma arara?

Mas era ao mesmo tempo bela e banguela a Guanabara.

Caetano Veloso, “Estrangeiro,” 1989

Resumo

Enquanto um volume substancial de trabalhos académicos no domínio da historiografia dedicados ao estudo da transformação da paisagem urbana do Rio de Janeiro do começo do século XX se encontra hoje disponível, bem como uma extensa tradição de estudos literários enfocados nas representações da cidade durante o mesmo período, o mesmo não se poderá dizer acerca da pesquisa de fontes ao nível da literatura produzida por viajantes. O propósito deste estudo é apresentar e problematizar os modos segundo os quais viajantes escrevendo em língua inglesa refletiram as novas realidades do Rio de Janeiro durante a Primeira República, relacionando um corpus selecionado de escrita de viagens com as obras de Machado de Assis, João do Rio, e Lima Barreto. Ao concentrar-me nos conceitos de velocidade, aceleração, globalização, e modernidade, proponho explorar as tensões subjacentes às amplas mudanças ocorridas na sequência na reforma urbana promovida pelo Prefeito Francisco Pereira Passos. Para tal, proponho uma revisitação crítica do contexto histórico conducente a estas cenas de transformação da cidade, seguida de uma análise cuidadosa de instâncias de literatura de viagens, lidas à contraluz de textos literários canónicos, e enfocada em três temas centrais: a introdução de tecnologia estrangeira (em especial, ferrovia urbana, ou “bondes”) e os seus impactos; as articulações entre a transformação urbana e a reprodução de imagens da cidade (com ênfase na imagem cinemática); e o tópico dos acidentes e do progresso como conceitos problemáticos. As conclusões deste ensaio apontam para uma relação de mútua implicação entre os olhares estrangeiros e o desenvolvimento de um imaginário de cidade cosmopolita, sugerindo dinâmicas de correlação entre a mudança social, as representações literárias, e a criação de um corpus de escritas de viagens centradas na cidade do Rio.

This article requires a subscription to view the full text. If you have a subscription you may use the login form below to view the article. Access to this article can also be purchased.

Log in through your institution

Purchase access

You may purchase access to this article. This will require you to create an account if you don't already have one.